Imagine que você é um explorador e acabou de chegar em um planeta novo, cheio de plantas e criaturas que você nunca viu antes. Seu objetivo é entender esse ecossistema, agrupá-lo em categorias e tentar fazer sentido de tudo isso sem que ninguém lhe diga o que é o quê. Essa é a essência do aprendizado não supervisionado.

Diferente do aprendizado supervisionado, onde temos um professor que nos mostra o caminho, aqui estamos por nossa conta, explorando e descobrindo padrões sozinhos.

No aprendizado não supervisionado, os dados apresentados ao algoritmo não possuem rótulos pré-definidos, ou seja, não sabemos quais são as categorias existentes. Assim, o algoritmo precisa encontrar, de forma autônoma, padrões ou agrupamentos que façam sentido.

Esse processo se assemelha a tentar organizar um monte de peças de um quebra-cabeça sem ter a imagem final como referência. Dessa forma, é possível revelar características ocultas dos dados e obter insights valiosos sem um ponto de partida explícito.

Esse tipo de aprendizado é especialmente útil quando trabalhamos com grandes volumes de dados (Big Data) que não foram previamente classificados. Com o aumento constante da geração de dados, a necessidade de métodos que possam explorar e organizar essas informações de maneira automatizada se torna cada vez mais importante.

 

O que é Aprendizado Não Supervisionado?

Aprendizado não supervisionado é uma técnica de aprendizado de máquina em que o algoritmo aprende a partir de dados sem que haja um rótulo ou resposta definida. Em outras palavras, não sabemos previamente qual é a classificação dos dados ou quais são os resultados desejados.

Uma das principais vantagens do aprendizado não supervisionado é sua capacidade de lidar com dados não rotulados, que muitas vezes representam a maior parte dos dados disponíveis no mundo real. Isso é especialmente relevante em contextos onde a rotulagem manual dos dados é impraticável devido ao grande volume ou à complexidade dos dados. Dessa forma, o aprendizado não supervisionado possibilita a extração de insights valiosos sem a necessidade de um processo prévio de anotação, o que pode ser demorado e custoso.

Além disso, o aprendizado não supervisionado é frequentemente usado como uma etapa preliminar de exploração, permitindo identificar padrões iniciais que podem ser utilizados para guiar análises mais aprofundadas. Por exemplo, ao descobrir grupos distintos em um conjunto de dados, um cientista de dados pode decidir focar em determinados segmentos para realizar um aprendizado supervisionado mais eficaz, potencializando a qualidade das previsões e análises futuras.

Na maior parte dos casos, utilizamos aprendizado não supervisionado para encontrar padrões escondidos ou estruturas intrínsecas nos dados. Mas por que isso é útil?

Suponha que você tenha milhares de transações de clientes de um e-commerce. Você gostaria de entender quais são os diferentes perfis de clientes para desenvolver campanhas de marketing mais direcionadas. Como identificar esses perfis, se você não tem rótulos pré-definidos, como “clientes que compram frequentemente” ou “clientes que compram apenas em datas comemorativas”? O aprendizado não supervisionado é a chave para resolver problemas como esse.

 

Principais Métodos de Aprendizado Não Supervisionado

Os métodos mais comuns de aprendizado não supervisionado incluem agrupamento (clustering), redução de dimensionalidade e métodos de associação. Cada um tem uma aplicação prática distinta, dependendo do que estamos buscando aprender dos dados.

1. Agrupamento (Clustering)

O agrupamento é provavelmente o exemplo mais clássico de aprendizado não supervisionado. Imagine que você tem uma multidão de pessoas em uma festa e seu objetivo é dividir essas pessoas em diferentes grupos com base em semelhanças de comportamento, como idade, hobbies ou preferências musicais. Você não tem nenhuma ideia prévia de quantos grupos existem ou como eles se dividem, mas você quer descobrir isso.

Um dos algoritmos mais conhecidos para realização de agrupamento é o K-Means. Ele tenta dividir os dados em K grupos diferentes, em que K é um valor definido pelo usuário. Ele faz isso colocando os pontos mais próximos entre si em um mesmo grupo. Imagine que você está organizando um conjunto de brinquedos no chão e precisa formar grupos baseando-se na cor. O K-Means vai tentar fazer isso para você de forma automática.

Outro algoritmo é o DBSCAN, que é mais indicado quando queremos identificar grupos de tamanhos variáveis e não queremos especificar previamente quantos grupos existem. Uma aplicação interessante do DBSCAN é na identificação de dados anômalos, pois os pontos que não se encaixam em nenhum grupo são identificados como “outliers“.

 
Aprendizado não supervisionado - algoritmos para classificação

A imagem acima demonstra o comportamento de alguns algoritmos para classificação de grupos em alguns cenários de aprendizado não supervisionado.

 

2. Redução de Dimensionalidade

Outro método muito utilizado no aprendizado não supervisionado é a redução de dimensionalidade. Pense que você tem um conjunto de dados com centenas de variáveis. Visualizar ou entender esses dados se torna um grande desafio, porque temos muitas dimensões para lidar. Como podemos tornar isso mais compreensível?

A Análise de Componentes Principais (PCA) é um dos métodos mais conhecidos para redução de dimensionalidade. O PCA transforma os dados de modo a reter a maior quantidade possível de informação, utilizando menos variáveis (componentes principais). É como tentar explicar um objeto tridimensional em uma folha de papel: você tenta projetar as características mais importantes de modo a perder o menor número de detalhes possível.

A redução de dimensionalidade é extremamente útil em contextos onde o excesso de variáveis pode ser confuso, como em bancos de dados biomédicos, onde existem centenas de variáveis possíveis para descrever pacientes.

3. Métodos de Associação

Os métodos de associação buscam encontrar relações entre variáveis ou eventos dentro de um banco de dados. Um exemplo clássico é a análise de cesta de compras, em que buscamos entender quais itens são frequentemente comprados juntos. Se você descobrir que clientes que compram leite também tendem a comprar pão, pode usar esse conhecimento para sugerir ofertas ou posicionar produtos estratégicos nas prateleiras.

Um algoritmo famoso para essa tarefa é o Apriori, que busca gerar regras do tipo “se isso, então aquilo” para melhor entender o comportamento dos dados. Por exemplo: se um cliente compra um laptop, é mais provável que ele compre um mouse ou algum outro acessório relacionado.

 

Aplicando o Aprendizado Não Supervisionado no Mundo Real

Uma pergunta comum que surge é: como podemos usar esses métodos na prática? Vamos explorar alguns exemplos do mundo real.

  • Segmentação de Clientes: Empresas, especialmente no setor de varejo e marketing, utilizam o aprendizado não supervisionado para dividir sua base de clientes em grupos distintos. Esses grupos podem ajudar as empresas a personalizar suas estratégias de comunicação e fidelização.
  • Detecção de Fraudes: No setor financeiro, algoritmos de agrupamento podem identificar transações que não se encaixam em nenhum padrão conhecido, o que pode ser um indício de fraude. Imagine que você tem um histórico de transações de um cliente e, de repente, surge uma transação fora dos padrões. Esse comportamento incomum pode ser identificado com técnicas de aprendizado não supervisionado.
  • Redução de Ruído em Dados: Muitas vezes, bases de dados possuem informações redundantes ou irrelevantes. A redução de dimensionalidade pode ajudar a focar no que é mais importante, eliminando informações desnecessárias e facilitando a visualização dos dados.

 

Desafios do Aprendizado Não Supervisionado

Apesar de ser uma ferramenta poderosa, o aprendizado não supervisionado tem seus desafios. Como sabemos se os agrupamentos estão corretos? Sem rótulos, não temos uma métrica direta para avaliar a qualidade dos resultados. Frequentemente, precisamos utilizar validação cruzada ou outras técnicas de avaliação indireta para validar se o modelo faz sentido.

Além disso, a escolha de hiperparâmetros, como o valor de K no K-Means, pode ser desafiadora. Como saber quantos grupos existem nos dados? Muitas vezes, algoritmos como o método do cotovelo são utilizados para ajudar a escolher um valor que minimize a variância dentro dos grupos.

Outro desafio importante é a interpretação dos resultados. Encontrar padrões em dados complexos é uma coisa, mas entender o que esses padrões significam e como utilizá-los efetivamente é outra questão.

 

Quando Escolher Aprendizado não Supervisionado?

Uma questão interessante é: quando devemos usar aprendizado supervisionado e quando devemos usar o aprendizado não supervisionado? Pense em aprendizado supervisionado como um aluno que está aprendendo com exemplos concretos fornecidos pelo professor. Quando você possui muitos exemplos rotulados — como históricos de compras onde cada transação foi classificada como “legítima” ou “fraudulenta” — o aprendizado supervisionado é a escolha mais óbvia.

Por outro lado, o aprendizado não supervisionado é ideal quando você não tem rótulos e deseja explorar os dados de forma livre. Ele serve bem em problemas de exploração e descoberta de padrões ocultos. Imagine que você tem dados de sensores em uma fábrica e deseja identificar anomalias. Sem exemplos prévios de falhas, é o aprendizado não supervisionado que vai ajudar a identificar algo fora do comum.

 

Conclusão

O aprendizado não supervisionado oferece uma oportunidade única de descobrir padrões ocultos e insights inesperados nos dados, permitindo uma exploração livre e sem restrições prévias. Ao enfrentar um conjunto de dados não rotulados, estamos essencialmente permitindo que os algoritmos identifiquem estruturas e grupos que, muitas vezes, não seriam percebidos por análises tradicionais.

Essa capacidade de descoberta autônoma é fundamental em um mundo onde o volume e a complexidade dos dados crescem exponencialmente.

Além disso, o aprendizado não supervisionado desempenha um papel crucial na fase inicial de muitos projetos de ciência de dados, funcionando como uma ferramenta de exploração e geração de hipóteses. Ao revelar padrões iniciais, ele nos permite direcionar nossos esforços para áreas específicas de interesse, tornando as análises subsequentes mais focadas e eficazes. Portanto, ao explorar e entender seus dados sem limitações, você estará se preparando para extrair o máximo de valor possível dessa informação, guiando decisões mais informadas e estratégicas.

Categoria:

Machine Learning,

Última Atualização: outubro 15, 2024